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Em defesa das árvores de São Paulo

Esta carta aberta foi enviada em 2015 ao então Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e ao Secretário do Verde e do Meio Ambiente. O texto foi feito coletivamente por mim, Thais Mauad, Madalena Buzzo e Joana Canedo como atividade do Grupo de Arborização Urbana do Conselho de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz da Subprefeitura de Pinheiros, do qual fazíamos parte na época.

As árvores urbanas oferecem inúmeros benefícios à população, sendo um dos principais atuar como filtro para a poluição do ar. Apenas uma árvore em frente a uma residência pode reduzir em mais de 50% a presença de material particulado nos ambientes internos, protegendo a saúde de seus moradores e até evitando mortes. Além disso, as árvores umidificam o ar, ajudam a combater as ilhas de calor e a evitar enchentes, além de melhorar as condições psicológicas das pessoas. Em Nova York, estimou-se que o decréscimo de material particulado do ar retido pela massa árborea por um ano representaria uma economia da ordem de 60 milhões de dólares em gastos de saúde, principalmente em doenças pulmonares e cardiovasculares – para citar um único exemplo de economia gerada ao município graças à arborização. Isso sem falar nas demais vantagens aos cofres públicos geradas pelos outros serviços que são oferecidos pela arborização urbana.

Só que a maior parte dos paulistanos não sabe disso e vê as árvores apenas como produtoras de “sujeira” (as folhas que caem sobre o solo e os telhados), fontes de danos ao “patrimônio” (devido à quebra de calçadas pelas raízes) e potenciais causadoras de acidentes. Atos de vandalismo são comuns, assim como o enforcamento de árvores, que ocorre quando as raízes são cimentadas, e ferimentos ao caule durante o corte da grama.  Somam-se aos maus tratos infringidos pela população as podas mal executadas, tanto pelas equipes terceirizadas a serviço da prefeitura quanto pela Eletropaulo, e temos um cenário de desastre: muitas árvores com risco de queda e a população querendo se livrar da arborização.

Numa floresta, é muito raro cair uma árvore. Numa cidade onde a manutenção é ruim e os cidadãos não possuem educação ambiental, caem árvores aos montes. Ainda por cima, as pessoas colocam a culpa das quedas nas próprias árvores, pois desconhecem que os fatores já citados e o mau planejamento (plantio de espécies inadequadas ao local) são os grandes responsáveis pelos “acidentes”.

A qualidade do ar é uma questão prioritária de saúde pública em São Paulo e por isso está na hora de virar o jogo em relação às árvores da cidade. Embora o plantio de 900 mil mudas seja a meta número 88 da atual gestão, os números ainda são tímidos (apenas 211 mil mudas plantadas até agora). E os resultados, desoladores: devido à falta de manutenção e fiscalização, a maioria dessas mudas jamais se tornará uma árvore adulta.

Alguns exemplos do que vem ocorrendo na cidade:
– Em algumas regiões os plantios são suspensos durante o período seco (que nos últimos anos se estende por quase todos os meses) porque a prefeitura não consegue sequer disponibilizar água nem mesmo para regar as mudas recém-plantadas.

– Milhares de crimes ambientais (sendo o vandalismo, as podas drásticas, o anelamento e o eforcamento de árvores os mais comuns) não são fiscalizados nem punidos.

– Não existem equipes de manutenção da arborização. O projeto-piloto da prefeitura foi descontinuado. Consequentemente,  as mudas não são acompanhadas, o que na maior parte dos casos resulta em sua morte.

– Não há nenhuma iniciativa de educação ambiental relacionada à arborização urbana em curso. Muitos munícipes recusam o plantio de mudas na calçada em frente ao seu imóvel ou destroem as árvores que forem plantadas pela prefeitura. Sem acompanhamento, fiscalização ou punição.

– As equipes a serviço da prefeitura são hostilizadas pelos munícipes que desconhecem boas práticas de jardinagem, como deixar cobertura morta sobre o solo para evitar o ressecamento e compactação. Julgando serem as folhas secas “sujeira”, não deixam os funcionários completarem o trabalho.

– Não há distribuição, ou sequer divulgação, para as equipes de manutenção de áreas verdes do novo Manual de Arborização Urbana, lançado pela prefeitura em janeiro de 2015. As orientações são desconhecidas pelas empresas que executam os serviços.
– Falta diálogo e cooperação entre a Secretaria do Verde o do Meio Ambiente e as Subprefeituras, com regras nem sempre claras para os munícipes, gerando pouca resolutividade em relação às solicitações de podas e queixas de crimes ambientais contra as árvores.

Tem-se falado na criação de um novo Plano de Arborização para a cidade sem que a atual lei que o prevê (LEI Nº 14.186, DE 4 DE JULHO DE 2006)  sequer seja de conhecimento dos gestores. Corre-se o risco de realizar um longuíssimo processo de criação de regras que serão inúteis, caso o suporte e a capacitação básicos às equipes que estão em campo não ocorra.

Mais do que um plano ambicioso, está faltando real vontade de fazer a arborização urbana da maneira que deve ser feita em São Paulo. A começar pelo óbvio: muda que não recebe água morre em poucos dias.

Atenciosamente,
Claudia Visoni, jornalista, ambientalista e conselheira do meio ambiente na subprefeitura de Pinheiros
Joana Canedo, tradutora e conselheira suplente do meio ambiente na subprefeitura de Pinheiros
Madalena Buzzo, administradora de empresas e conselheira participativa na subprefeitura de Pinheiros
Thais  Mauad, médica e professora da Faculdade de Medicina da USP

1 comentário em “Em defesa das árvores de São Paulo”

  1. Parabens; muito claro e direto. Toda galera formada em agronomia, ecologia, gestão ambiental, engenharia florestal etc. tem alunos / profesionais muito capazes de orientar trabalhos de seleção de espécies e a manutenção e cuidados necessários. Por que não dar emprego p/ esta gente ? Bjs Pete

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