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Minhas roupas 2008 – 2021

Esse foi o primeiro post do meu blog e desencadeou uma mudança na minha maneira de lidar com roupas. Mantive o post original e acrescentei reflexões sobre o armário 13 anos depois.

2021
As roupas são mais ou menos as mesmas de 2008. O que entrou depois em grande parte é de brechó. O volume e quantidade de peças diminuiu muito, o que me deixa mais leve para viajar pela vida. Minha filha cresceu e herdou bastante coisa. É muito bom vê-la com roupas que foram minhas.

Agora uso as roupas até o fim. Quando furam, remendo. Quando viram trapo, vão para o equipamento de limpeza. Quando estão esfarelando viram fundo de vaso. Acontece que apenas em uma pequena fração de sua vida uma roupa tem cara de nova. Em 95% do tempo que será vestida aparentará desgaste. Incorporei isso ao meu estilo. Estou me aprimorando em remendos e bordados. Virei expert em transformar várias fronhas velhas em uma só, juntando os trapinhos. Ficam lindas e muito repousantes. 

 Ao restringir o descarte, mudei minha relação com a indústria da moda. Agora, quase não compro, quando compro dou preferência a peças de algodão e sei que vou me obrigar a viver com elas looooooongos anos. Sem a opção de enjoar, passei a escolher muito melhor. A ter critérios mais perenes, baseados com meu estilo e tipo físico. As modas passageiras não me interessam. Muitas vezes, acabo gastando mais para adquirir algo de boa qualidade. Mas, como estou em busca de um casamento eterno e não de uma paixão volátil, o investimento vale a pena. De forma geral, vivo feliz para sempre as peças eleitas.

UM DIA QUALQUER EM 2008
Até a semana passada eu me achava razoavelmente ecológica e não muito consumista. Aí fiz uma arrumação no armário e descobri que possuo:

  • 110 peças para meu próprio hemisfério norte (incluindo camisas de trabalho, blusas de manga longa, de alcinha, de festa, de ficar em casa e as camisetas para fazer esporte);
  • 29 calças;
  • 6 saias e 1 vestido;
  • 17 bermudas;
  • 45 sapatos;
  • 24 malhas de lã e 6 blazers (que odeio usar);
  • 25 bolsas, mochilas & cia.

Apenas um corpo e 258 peças de roupas. Isso sem contabilizar as que se encontravam na longa jornada que vai do cesto de roupa suja ao armário novamente. Lembra da frase mais famosa do Pequeno Príncipe (“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”)? Pois é exatamente assim que me sinto em relação a essa montanha de tecido, couro, borracha e metal. Fui eu que escolhi, paguei, levei para casa, uso, mando lavar e, às vezes, ajustar. Na hora da despedida, ainda tenho que encontrar um fim digno para algo que compartilhou minha intimidade por um bom tempo.  

Outro dia, andando na rua, encontrei uma família de pedintes perto de um farol ao lado de uma pilha de roupas pisoteadas. Eram camisas sociais de executivo, uniformes de escola particular e mais diversos itens que não condiziam com o estilo do pessoal.  Deduzi que as doações recém-recebidas não agradaram e iam ficar por ali mesmo. Foi quando um arrepio percorreu minha espinha e lembrei de uma reportagem que li logo após o tsunami. Era sobre as o

Então é isso: a “bondade” da classe média em doar roupas muitas vezes não passa de uma maneira de dar vazão aos desejos consumistas com menos culpa. Hoje em dia prefiro as doações de roupas de crianças e adultos entre amigos, como uma forma de aproximação e de compartilhar histórias, do que esses atos supostamente beneficentes.

Pensar nisso tudo está me deixando longe de lojas, vitrines e até de anúncios de roupa. Tenho percebido, inclusive, que quanto mais reflito sobre o assunto, menos vontade de ir às compras. Aos 42 anos, tenho um closet que parece uma espécie de brechó particular, reunindo meus itens preferidos dos últimos 15 anos pelo menos. 

rganizações humanitárias internacionais que pediam às pessoas do “primeiro mundo” que parassem de enviar roupas para os países asiáticos afetados pela tragédia. Argumentavam que — além das vítimas estarem precisando mesmo de água, alimentos e remédios — aquelas roupas eram totalmente inadequadas ao modo de vida no lugar. 

Lembro que, na adolescência, a gente se orgulhava de ter aquele jeans supervelho e naturalmente desbotado por centenas de lavagens. Quando a tal calça rasgava de tanto uso, era uma vitória. Falando nisso, existe um tipo de roupa na vitrine que me causa mal-estar só de ver: as peças que fingem ser velhas. Como vivemos na sociedade do hiperconsumo e da hipervelocidade, ninguém mais tem perseverança para usar as próprias roupas até que adquiram aquele charmoso estilo “pano gasto”. Então a indústria da moda resolve isso colocando máquinas para desgastar os tecidos com fricção e ácidos de modo que cheguem aos consumidores um tanto puídos e manchados. Sinto um nó na garganta com isso, pois lembro de todas as gerações de seres humanos, com fartos exemplos na literatura, que tinham apenas uma ou duas roupas para vestir e que, sendo trabalhadores braçais, se esforçavam para preservá-las ao máximo porque tinham vergonha de serem vistos usando peças esfoladas.

1 comentário em “Minhas roupas 2008 – 2021”

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