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O que fazer para combater a fome

(Sobre esse assunto também fiz um vídeo. Aqui: https://www.youtube.com/watch?v=I6K-cEKkUdc)

Um em cada quatro brasileiros passa fome e é urgente que o governo e a sociedade priorizem a segurança alimentar da população. A inflação em março/22 chegou a 1,62%, o maior resultado mensal desde 1994. A escalada do preço da comida foi um dos fatores que mais contribuíram para a alta da inflação. Itens que antes eram corriqueiros nas listas de compras, como cenoura e laranja, estão com preços altíssimos. Essa situação se relaciona com as mudanças climáticas, pois a combinação de muito calor, falta de chuva e geada é péssima para a agricultura. Outro fator que rareia a comida na mesa dos brasileiros é o foco excessivo na produção de commodities para exportação. De acordo com o IBGE, nos últimos 10 anos diminuiu em 40% a área de cultivo de arroz, em 27% a do feijão e em 41% a da mandioca. Enquanto isso, o espaço destinado ao plantio da soja aumentou em 40%.

Mesmo diante desse cenário difícil, turbinado pela guerra entre Rússia e Ucrânia, soluções existem e não são tão complicadas.

Em primeiro lugar, precisamos ampliar as áreas de cultivo de arroz, feijão, mandioca, frutas, verduras, legumes e outros alimentos básicos da nossa saudável dieta tradicional. Políticas públicas de incentivo a essas culturas, via Plano Safra e outros instrumentos governamentais, são urgentes. Aproveitando melhor as áreas agrícolas que já existem, não será preciso derrubar nenhum metro quadrado de mata para colocar fartura na mesa das famílias.

É importante também fazer a transição para um tipo de cultivo que não dependa de adubos químicos importados e agrotóxicos. Por razões de saúde pública e também econômicas. Fertilizantes artificiais são produtos caros. E agrotóxicos ameaçam a saúde humana e dos ecossistemas. O uso desses produtos é tão intensivo no Brasil que pesquisa recente do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água (Sisagua) encontrou uma mistura de 27 tipos de agrotóxicos na água para consumo humano em mais de 2,3 mil cidades em todo o país. A transição para a produção orgânica e agroecologia não vai acontecer de um dia para o outro, mas trata-se de um caminho que rende saúde, boa nutrição e justiça social. A ONU (Organização das Nações Unidas) elaborou um estudo intitulado “Agroecology and the right to food” (tradução livre “Agroecologia e o direito à alimentação”), que recomenda a agroecologia tanto para resolver a fome quanto para combater e promover adaptação às mudanças climáticas.

A agricultura urbana também pode contribuir muito mais do que sua participação atual na produção de alimentos. De acordo com o World Watch Institute, cerca de 20% dos alimentos do mundo já são cultivados nas áreas urbanas e periurbanas. Esse número pode facilmente dobrar. No convívio com agricultoras e agricultores urbanos, ouço sábias sugestões para impulsionar a produção de comida nas cidades. Com o intuito de explicar de um jeito fácil, criei essa fórmula: T.A.C.A² + G.

T= Acesso facilitado à terra pública ou a terrenos particulares ociosos.
A= Acesso facilitado à água com tarifas subsidiadas e/ou apoio à implantação de soluções alternativas como cisternas.
C= Composto orgânico em abundância para adubar o solo. Em São Paulo temos a produção dos pátios de compostagem que deve ser direcionada prioritariamente à agricultura local.
A= Auxílio financeiro para agricultores e ajudantes + aquisição de alimentos pelo poder público. Comida precisa ser barata, mas é custosa para se produzir. Os governos
devem oferecer ajuda em dinheiro aos agricultores e garantir a compra da produção

E o + G? São as galinhas! Precisamos de novas leis, que estabeleçam normas seguras para galinheiros nas cidades. Ovos são alimentos de alto valor nutricional e as galinhas, poderosas como geradoras de esterco para nutrir o solo.

Para terminar, uma explicação: existem vários tipos de agricultura urbana e muitas vezes as pessoas acham que são as hortas comunitárias mantidas por voluntários que vão combater a fome. Mas não é bem assim. As hortas ativistas servem sobretudo como um laboratório de criação de soluções ambientais, sociais, agrícolas e culturais. Quem produz mesmo em quantidade são as agricultoras (estou usando o feminino porque a maioria é mulher) urbanas profissionais. E elas precisam ser ouvidas na hora de criar as políticas públicas e os projetos do terceiro setor. Muito tempo e energia é gasto com mapeamentos complicados que apontam soluções mas não ajudam a implementá-las. As demandas básicas são T.A.C.A² + G. Sou totalmente a favor de avançar e inovar das mais diversas maneiras. Mas enquanto as propostas mais sofisticadas vão sendo criadas, que tal resolver logo esses 5 itens?

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