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Dossiê Crise da Água 2014

Enquanto os reservatórios do país estão em níveis baixíssimos, os governantes fazem seus cálculos politiqueiros em cima da tragédia anunciada e a mídia apresenta uma cobertura que deixa a desejar, aprofundando apenas nas fofocas dos bastidores do poder. A sociedade ainda não acordou para debater as causas do problema e as atitudes necessárias para sobreviver enquanto as chuvas não voltam. Esse post reúne opiniões de especialistas e outros artigos sobre o tema que me inspiraram a criar a imagem ao lado .

O futuro relator das Nações Unidas para o Direito à Água e ao Saneamento Básico é o mineiro Léo Heller. E ele avisa: “No curto prazo nada pode ser feito pela seca do Sudeste”. http://www.ecodebate.com.br/2014/11/26/no-curto-prazo-nada-pode-ser-feito-pela-seca-no-sudeste-afirma-futuro-relator-da-onu-para-o-direito-a-agua/

Apresentado internacionalmente em 31/3,  o Relatório sobre Impactos, Adaptação e Vulnerabilidades às Mudanças Climáticas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) aponta que as mudanças climáticas já observadas e as projetadas para as Américas do Sul e Central colocarão em risco a segurança hídrica das regiões e terão impactos diretos no abastecimento doméstico e industrial e em setores fortemente dependentes de água, como o de geração de energia hidrelétrica e a agricultura. http://www.ecodebate.com.br/2014/04/10/mudancas-climaticas-poem-em-risco-seguranca-hidrica-na-america-do-sul/

 Philip Fearnside, climatologista norte-americano, mora  em Manaus e recebeu, ao lado de outros cientistas do IPCC, o  Nobel da Paz em 2007. De acordo com ele, as inundações na região Norte e a seca no Sudeste estão interconectadas. Trechos da reportagem feita por Leão Serva para a revista Serafina de abril de 2014: “Na Amazônia, ainda nos anos 1980, Fearnside escreveu que se nada fosse feito, a floresta como sistema climático iria desaparecer em 50 anos. Passaram-se 25, o desmatamento continuou e vários fenômenos associados também. O principal deles é a redução da umidade naquela área, porque o desmatamento faz com que a água das chuvas não seja retida. Outra consequência do desmatamento é que a água das chuvas escorre diretamente para a calha dos rios, provocando enchentes maiores. Uma terceira consequência do desmatamento em grande escala da região, que Fearnside detalhou em 2004, mostra que menos água da Amazônia seria transportada pelos ventos para o Sudeste durante a temporada de chuvas, o que reduziria a água das chuvas de verão nos reservatórios de São Paulo.” http://www1.folha.uol.com.br/serafina/2014/03/1431548-para-ganhador-de-premio-nobel-cheias-no-norte-e-secas-no-sudeste-estao-conectadas.shtml . Portal Ecodebate traz mais dados sobre desmatamento nas bacias hidrográficas http://www.ecodebate.com.br/2014/05/16/desmatamento-nas-bacias-hidrograficas-agravou-crise-da-agua-em-sp/

Marc Dourojeanni, professor emérito da Universidade Agrária de Lima (Peru) e ex-chefe da Divisão Ambiental do Banco Interamericano de Desenvolvimento, relaciona as inundações da Amazônia e a seca que virána Região Norte ao desmatamento nos Andes: “Ao eliminarem-se as florestas a água das chuvas escorre livremente, arrastando o solo em volumes cada vez maiores. Isto é tanto mais violento quanto maior seja a inclinação da pendente. A função de esponja se perde completamente e a água desce. Por isso as enchentes são seguidas de secas. A agricultura e a pecuária não ajudam em nada. Em geral aceleram muito a erosão.” http://www.oeco.org.br/marc-dourojeanni/28103-teimosia-antiga-e-as-enchentes-na-amazonia

Altair Sales Barbosa, professor da PUC-Goiás e um dos maiores especialistas do mundo sobre o cerrado declara que o bioma está praticamente extinto e com isso lá se vão as nascentes das grandes bacias hidrográficas do Sudeste. http://www.jornalopcao.com.br/entrevistas/o-cerrado-esta-extinto-e-isso-leva-ao-fim-dos-rios-e-dos-reservatorios-de-agua-16970/

Julio Cerqueira Cesar, professor aposentado de Hidráulica e Saneamento da Escola Politécnica da USP, explica o que a Sabesp deveria ter feito para garantir o abastecimento da população e por que não fez: “Em 1990/1995, eles já deveriam começar as obras de  novos mananciais. E poderiam fazer sem correrias, sem superfaturamento, e ir atendendo as necessidades da população”… “Na década de 1990, a Sabesp aderiu ao modelo neoliberal e passou a buscar o lucro a qualquer custo, independentemente dos direitos fundamentais do homem. Demitiu os engenheiros sanitaristas e advogados e economistas assumiram o comando. A Sabesp deixou de considerar o saneamento básico como problema de saúde pública. E passou a encará-lo como um negócio qualquer, se transformando num balcão de negócios.”… “Nós chegamos agora num ponto que vamos ter de suportar essa estiagem até começar a chover de novo. São seis meses de racionamento violento. O Cantareira representa metade da água de São Paulo. Não tem outro jeito, a não ser racionar.” http://www.viomundo.com.br/denuncias/julio-cerqueira-cesar-alckmin-e-sabesp-ja-estao-fazendo-racionamento-de-agua-ha-mais-de-2-meses-ele-e-dirigido-aos-pobres.html

Marussia Whately, urbanista e especialista em recursos hídricos, analisa os conflitos de interesse na Sabesp e também não vê solução em curto prazo. “Ainda é cedo para afirmar se a seca irá se prolongar em 2014 ou nos anos posteriores, então a curto prazo não resta outra alternativa a não ser a adoção de medidas drásticas para reduzir consumo: racionamento. A médio prazo, as medidas de redução de consumo devem continuar, somadas a medidas de conservação de água e sistemas de prevenção e gerenciamento de eventos climáticos extremos como esse.” http://raquelrolnik.wordpress.com/2014/04/14/a-crise-da-agua-em-sao-paulo/

Osvaldo Ferreira Valente, engenheiro floresta especialista em hidrologia, fala sobre riscos e oportunidades do pagamento por serviços ambientais na proteção de nascentes e como a agricultura pode colaborar para a melhor gestão de água. De acordo com ele, é preciso que as lavouras incorporem terraços, caixas ou cisternas de infiltração, barraginhas e plantios em nível. http://www.ecodebate.com.br/2014/04/30/uti-ambiental-a-agua-e-a-realidade-nua-e-crua-artigo-de-osvaldo-ferreira-valente/

Publicada pelo Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces), a Revista Página 22 (edição de maio de 2014) aborda o tema da página 14 a 35. Versão em PDF aqui, com ótima entrevista de José Machado, ex-prefeito de Piracicaba, ex-deputado federal e relator da Lei das Águas (9.433/97) e ex-presidente da Associação Nacional de Águas. http://www.pagina22.com.br/wp-content/uploads/2014/04/Pagina22_Ed84.pdf

A água do subsolo paulistano já contribui com 10m3 por segundo para o abastecimento da cidade. Mas esse recurso também está sendo mal gerido, com 60% de poços ilegais e a prática comum de edificações que avançam no subsolo e bombeiam incessantemente a água limpa do lençol freático para o esgoto. http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/05/1459709-pocos-podem-ajudar-na-crise-da-agua-dizem-especialistas.shtml

Água vai virar commodity? É o que discute Stela Goldenstein, diretora executiva da Associação Águas Claras do Rio Pinheiros, nesse artigo publicado pelo jornal Valor Econômico em 22/4/2014. http://www.cliptvnews.com.br/mma/amplia.php?id_noticia=51275

De Piracaia (SP), a jornalista Giuliana Capello conta como a criação de gado e as plantações de eucalipto estão detonando o armazenamento de água nas represas da região, que integram o Sistema Cantareira http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/gaiatos-e-gaianos/a-seca-o-sistema-e-o-suco-de-eucalipto/

Nascido e criado na região do tal Sistema Cantareira, o jornalista Leandro Beguoci relaciona o aumento da mancha urbana nos municípios de Caieiras, Mairiporã, Piracaia, Joanópolis, Nazaré Paulista, Franco da Rocha e Vargem ao colapso das represas. E os condomínios e casas de veraneio têm sua parcela de culpa pelo problema. http://gizmodo.uol.com.br/giz-explica-agua-sistema-cantareira/

As nascentes do Paraíba do Sul, aquele rio que virou motivo de briga entre os governos de São Paulo e Rio de Janeiro, também estão ameaçadas. http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/03/1431569-agua-esta-diminuindo-na-nascente-do-rio-paraiba-do-sul-dizem-vizinhos.shtml

Para piorar, no que se refere à energia a situação é para lá de complicada. Especialistas sugerem o início de um racionamento brando já. Veja o que diz Roberto Schäffer, professor de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ: “O Brasil está entrando numa zona perigosa. O país quer passar uma impressão internacional de que está tudo bem, mas depois do Mundial devem vir medidas mais duras.” http://www.ecodebate.com.br/2014/04/04/brasil-deveria-iniciar-racionamento-de-energia-desde-ja-defendem-especialistas/comment-page-1/#co.mment-32151

Soluções para ao menos amenizar esse enorme problema existem e não são complicadas demais. Um exemplo vem de Nova York, onde a prefeitura  paga a fazendeiros que vivem distantes da cidade pela preservação das nascentes. E São Paulo tem uma lei boa quase secreta, mas que não “pegou” por enquanto: http://www.akatu.org.br/Temas/Agua/Posts/lei-para-uso-da-agua-sao-paulo.  Começam a ser desenhadas políticas públicas que remuneram proprietários rurais que mantém a a floresta de pé em volta das nascentes e proibem práticas ambientalmente danosas em regiões de mananciais. Mas isso só vai acontecer se a opinião pública acordar. http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2013/03/nova-york-cuida-dos-mananciais-que-abastecem-cidade-e-seus-turistas.html

Se continuarmos na inércia e não der sorte de cair do céu um montão de água nos próximos meses, viveremos ao vivo as emoções de um filme catástrofe, como contou o professor Antônio Carlos Zuffo (chefe do Departamento de Recursos Hídricos da Unicamp) ao jornalista David Shalom: “A situação é realmente grave e não envolve apenas os riscos de ausência do recurso para uso doméstico. Segundo Zuffo, antes de a população ficar sem água devem ser suspensas as outorgas para seu uso aos agricultores da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo, que abrange 73 municípios em torno da capital, e às indústrias. A consequência disso seria um desabastecimento de certos produtos, como hortaliças, e demissões em massa de funcionários. A bola de neve prossegue: com o desemprego aumenta a violência; sem água, instituições de ensino e centros de compras fecham as portas; logo, a falta de higiene também faz surgirem as doenças.” http://outraspalavras.net/outrasmidias/capa-outras-midias/crise-de-agua-sp-reservatorios-podem-secar-em-outubro/

Tá com preguiça de ver esse monte de links? Então acesse apenas esse e em 6 minutos saiba o que é preciso saber sobre o assunto: https://www.youtube.com/watch?v=RsUD8CTDdAw&feature=youtu.be

 

 

2 comentários em “Dossiê Crise da Água 2014”

  1. Pingback: O próximo evento da OPS será sobre a “Crise da Água” | OPS Vera Cruz

  2. Você é uma jornalista livre e portanto tão precisa e diversa no olhar!
    O dossiê Crise D’água será guia para um encontro no condomínio, chamado pelo grupo SOS Água, que teremos amanhã.
    Depois te conto.
    Beijos

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