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Não jogamos nada fora. Não existe fora.


Sou inconformada com a existência do lixo. Acho absurdo que quase todas as coisas que nos circundam sejam encaminhadas mais cedo ou mais tarde para uma grande e escondida montanha (ou vala) de materiais sujos e misturados.

O tema resíduos, além de irritar e angustiar, aciona meus sensores cerebrais em busca de soluções. Cuidar do lixo se tornou um dos meus hobbies favoritos. Dedico muitas horas a esse tema, seja compostando as sobras orgânicas, fazendo curadoria dos mais ínfimos objetos para torná-los atrativos e úteis, participando de feira de trocas ou simplesmente deixando de comprar.

Não bebo água mineral (levo minha garrafinha com água do filtro para todos os lugares). Abandonei quase completamente os cosméticos e os produtos de limpeza industrializados por não suportar aquelas embalagens que se multiplicam infinitamente. Troquei o filtro solar por chapéu e camiseta. Penso mil vezes e tento arranjar doação antes de adquirir eletrônicos. Recolho da rua folhas secas (para a horta) e descobri que trapos de algodão são ótimos para substituir as mantas de drenagem nos vasos.

Mesmo assim, os resíduos continuam a me assombrar. Limpo, separo a sucata e organizo bonitinho para a reciclagem. Mas não pense que fico com a consciência tranquila e me sentindo quites com o meio ambiente. Ao contrário, perceber que não consegui reutilização para tanto material me deixa frustrada. E, apesar do trabalho heroico dos catadores, as grandes quantidades de resíduos no pátio da cooperativa são a imagem de um sistema prestes a enfartar por não conseguir gerir tanto produto feito para o descarte.

No meu dicionário, reciclagem não é sinônimo de ecologia. É apenas redução de danos. Ninguém me convence que transportar, derreter e refazer uma garrafa de cerveja causa menos impacto do que simplesmente lavar, reenvasar e recolocar no mercado.  Era assim que se fazia antigamente e as garrafas podiam durar várias décadas vivendo de bar em bar. Quanto ao papel, se usássemos tinta de origem vegetal e abandonássemos vernizes e outros químicos poluentes, bastava jogar na terra para virar adubo. Para fechar a turma da coleta seletiva, no meu mundo ideal plástico e alumínio jamais chegariam perto de alimentos e teriam usos muito restritos.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos foi sancionada em 2010 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm), mas ainda não saiu do papel. Já as empresas não se mostram dispostas a rever radicalmente o uso de embalagens descartáveis e iniciar uma transição para o lixo zero, conceito tão aclamado quanto ignorado na prática. E a grande maioria dos cidadãos ignora/finge ignorar o tema ou joga a culpa “neles”, os políticos. Só que nesse caso a culpa é muito mais dos empresários.

Para aprofundar o tema lixo – ou gestão de resíduos sólidos, se preferir — existem toneladas de livros, gigabilhões de bites na internet e centenas de congressos pipocando pelo planeta. Acho importante pesquisar e estudar o assunto. Mas eu estou bem cansada de tanta falação e pouca atitude.

5 comentários em “Não jogamos nada fora. Não existe fora.”

  1. Cláudia,
    Comento pouco aqui, mas depois deste post fiquei louca pra conhecer sua casa! Pois é, sempre defendi que reciclar não resolve o problema. Resolve é produzir menos embalagens. Infelizmente estou a anos luz de conseguir reaproveitar tanta coisa (tenho um problema sério com sucata, acho feio demais). Fico por enquanto na compostagem e na recusa de sacolas.
    Parabéns, você é uma inspiração. O problema é de todos nós.

    1. Muitas coisas que faço são apenas medidas desesperadas por realmente ficar enlouquecida com o problema do lixo. Não acho que resolveremos a questão “cada um fazendo a sua parte” como as campanhas publicitárias gostam de dizer. O sistema de produção/consumo/descarte precisa ser todo revisto. É uma briga política que no Brasil mal começou. Na Europa está mais avançada e até os EUA têm iniciativas interessantes. Uma grande universidade (Berkeley, se não me engano) proibiu a venda de água engarrafada no campus. Vou ver se acho essa notícia para postar.

  2. Interessante sua maneira e expor o assunto lixo porque o que vemos nas lixeiras não é necessariamente lixo, é um descarte abusivo por conta de status e não de uma real necessidade. Não vivo no mesmo nível de consciência que você mencionou no seu texto (gostei muito) mas em minha casa uso muitas coisas em 2ª mão, algumas inclusive encontradas no lixo nomeadamente: Aparador da tv encontrado na rua, tv ainda daquelas quadradonas, sofás em 2ª mão, cama, colchão e mesinhas de cabeceira que seriam descartados por um vizinho, jogo de quarto das crianças em 2ª mão … Depois desse texto vi que mesmo sem articular tão bem como você fez tenho essa preocupação de evitar gerar mais lixo.

  3. Olá, Cláudia, ótimo texto. Não sei se o site continua ativo? Sou um novato nessa imensa questão sobre o lixo… sei que o teu texto é de 2013, mas me pergunto se algo mudou nesse meio tempo? A questão do lixo, como a ecologia ou o minimalismo vão de encontro ao próprio cerne da nossa maneira consumista de viver; por isso acho que a luta contra isso exigirá muitos anos, provavelmente gerações. Temos esse tempo? Talvez só o acirramento do problema nos fará mudar enquanto sociedade, quando as coisas já estiverem à beira do precipício. Se o blog ainda estiver ativo, dê uma notícia, eu, assim como muita gente, imagino, ficará contente… 😀

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