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Rosário (Argentina), o paraíso dos hortelões

Estive na terceira maior cidade da Argentina, a 300 km de Buenos Aires, que tem 1 milhão de habitantes e um programa de agricultura urbana que é referência no mundo todo. De acordo com a FAO, setor da Organização das Nações Unidas que cuida de alimentação e agricultura, trata-se de uma das 10 melhores políticas públicas do mundo nessa área. Ou seja, fui parar na minha Disneylândia.

Visitei algumas hortas da cidade e conversei com a equipe da prefeitura que cuida das iniciativas de plantio de alimentos puxadas pela prefeitura. Veja bem: “la municipalidad” de Rosário coloca a mão na terra, literalmente, para facilitar a vida de quem quer produzir comida para sua família ou para vender. Isso tudo começou em 2001, durante uma crise econômica dramática, como forma de gerar trabalho, renda e aumentar a segurança alimentar sobretudo das pessoas mais pobres.

É tudo tão bem pensado que acredito ser o caso das cidades brasileiras simplesmente copiarem o programa. Assim não precisamos de taaantas reuniões e sobra mais tempo para plantar, que é o que importa. A coisa funciona mais ou menos assim:
* A prefeitura instalou 7 Parques-Huerta em terrenos públicos totalizando 25 hectares que são divididos em lotes de mais ou menos metade do tamanho de um campo de futebol e emprestados para os agricultores plantarem as hortaliças que quiserem. Sem veneno, claro.
* Além disso o poder público local apoia a transição agroecológica dos 800 hectares de cultivo na área periurbana.
* O programa inclui doação de sementes e mudas, assessoria técnica agroecológica, manutenção dos 7 parques-huerta, instalação de hortas em 40 escolas, fornecimento de ferramentas e até tratores, instalação de feiras e mercados públicos para a venda dos alimentos (100% da produção é para consumo local), vigilância policial nas hortas, cursos de agricultura para a população e realização de uma semana anual de agroecologia, como a que estou tendo a honra de participar agora.
* Em relação às hortas domésticas, até agora 20 mil rosarienses passaram por cursos gratuitos, sendo que pelo menos 5 mil com certeza continuam hortelões ativos, mantendo contato frequente com a prefeitura para receber sementes, mudas e informações. E 6 mil jovens em situação de vulnerabilidade social ou infratores recebem bolsas da iniciativa Nueva Oportunidad para aprenderem a ser agricultores e têm ajuda para encontrar seus primeiros clientes.

O mais legal de tudo é que a querida galera da prefeitura (com quem aprendi muuuuuito) tem as unhas limpas de terra como as minhas. É uma turma que pratica a agricultura de verdade, condição que acho indispensável para criar políticas públicas que façam sentido nessa área. Foi por isso, inclusive, que coloquei a continuidade da minha vida de hortelã como condição para entrar nessa aventura chamada Mandato Coletivo da Bancada Ativista.

Conheci também a Feira Agroecológica do Distrito Sul de Rosário, que reúne agricultores agroecológicos e panificadores artesanais. Conversei com Juan Brusche, Manuel Jaime e Ruben Salvatierra, da Cooperativa La Tribu Agroecologia, em que 6 parceiros cultivam 4 hectares, num terreno hoje urbano onde o avô de Juan se estabeleceu nos anos 1920, ao chegar da Itália. Juan, que foi agricultor convencional por 30 anos, decidiu fazer a transição agroecológica por causa de doenças na família causadas pelos agrotóxicos.

Na barraca ao lado, Carlos Lopez vendia ovos embrulhados em papel ( muito mais sustentável). Todas as quintas-feiras ele pedala 6km até a feira, trazendo a produção de suas galinhas urbanas. Sim, a prefeitura de Rosário incentiva os galinheiros urbanos em vez de proibir!

Fui embora já pensando em voltar para Rosário. Ainda tenho muito a aprender com as políticas públicas de lá e também um pouco a contribuir, já que o cultivo de PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais), por exemplo, por enquanto é pequeno e a gente está mais avançado nisso.

Eu, Sabrina e Damian (funcionários da prefeitura de Rosério) no Parque Huerta La Tablada


Carlos Lopez pedala 6 km todas as semanas para levar os ovos de suas 60 galinhas para vender na feira de produtores do distrito Sul de Rosário

 

 

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