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Levante popular e horta em Santiago do Chile – 2019

Quando viajo tento fazer o máximo possível para compensar as emissões de carbono que me transportam. Como? Compartilhando conhecimento de lá para cá e daqui para lá e também aproveitando o deslocamento para conectar com redes internacionais de economia e política regenerativas.

Nos 3 dias em que estive em Santiago em 2019 fui ver de perto e investigar as manifestações, além de conhecer projetos socioambientais. A cidade funcionou mais ou menos normalmente durante minha estadia. As grandes marchas e depredações sossegaram um pouco e o recado está dado pelos grafites: https://www.facebook.com/claudia.visoni/posts/10206691450001607. Várias ruas permaneciam fechadas, polícia e exército estavam bem presentes. Todas as tardes os manifestantes se reuniam na antiga Plaza Italia, rebatizada Plaza de la Dignidad. Estive lá (a uma boa distância) pouco antes dos jatos d’água e bombas de gás começarem e fiz esse vídeo aqui: https://www.facebook.com/claudia.visoni/videos/10206694242591420/

A motivação da crise é econômica. O salário mínimo de 300.000 pesos (cerca de R$ 1.600, 50% maior que o nosso) não basta para o sustento das família num país de custo de vida semelhante a São Paulo onde as escolas públicas são poucas e ruins, o programa de bolsas para universidade (as públicas também são pagas) só surgiu no ano passado e o sistema de saúde pública é frágil. A previdência foi individualizada pelo governo ditatorial, encerrado em 1990. Os trabalhadores depositam 10% de seus salários e não recebem nenhum outro aporte. Ao se aposentar só têm direto ao que colocaram em sua conta. Essa estratégia gera valores insuficientes. E as mulheres, por se ocuparem das famílias e ficarem longos períodos fora do mercado formal de trabalho, muitas vezes na velhice acabam recebendo só uma ajuda de custo do governo de cerca de R$ 500. Os suicídios de idosos, infelizmente, estão se tornando comuns. Já os jovens que vão às ruas protestar muitas vezes estão endividados com as universidades e sem perspectivas de bons empregos.

A revolta explodiu com o anúncio do aumento da tarifa de metrô em 300 pesos, cerca de 25 centavos nossos. E o slogan do movimento é “Não são os 300 pesos. São 30 anos”. A galera se cansou das políticas neoliberais criadas na ditadura e da indiferença dos governantes e parlamentares às urgências do povo. Além das manifestações, estão acontecendo assembleias de vizinhos. Percebi muito interesse pela Bancada Ativista e o funcionamento do mandato coletivo. Por isso fui convidada a relatar experiências numa dessa “asambleas”. Por toda parte emergem debates políticos e o clima é de preparação para o plebiscito que decidirá se haverá nova constituição, marcado para abril.

Outro problemaço no horizonte é a escassez de água. Há cada vez menos neve nos Andes, principal fonte hídrica do país, e menos chuva nas planícies. O rio Mapocho, que corta a cidade, está por um fio. A água do país é privatizada e distribuída segundo interesses das corporações. Além das mudanças climáticas globais, as queimadas na Amazônia estão acelerando o degelo (https://www.uerj.br/…/pesquisa-da-uerj-confirma-que-queima…/). Conversei com várias pessoas sobre a necessidade de unirmos movimentos na América do Sul para enfrentar a crise ambiental e pressionar os governantes do continente a agir.

Ainda deu tempo de visitar o único grande projeto de agricultura urbana de Santiago: Huertas de La Reina. Lá funciona em sistema de allotment e quase 100 hortelões da cidade recebem uma área de 16 m2, sementes, composto, irrigação e orientação da prefeitura para cultivar alimentos. O lugar se chama Aldea del Encuentro, onde acontece uma feira orgânica maravilhosa nas quartas e sábados.

Agradeço imensamente a amiga Aleka Vial De Grenade, criadora da incrível Fundación Hypatia, que me hospedou e ensinou tanto. E ao Gui Benevides, brasileiro especialista em agroecologia, que me ciceroneou no epicentro da muvuca política.

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