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8 propostas para lidar com dilúvios e secas

Os cientistas avisam que os eventos climáticos extremos se tornam a cada dia mais frequentes e intensos. É exatamente isso que estamos vendo no noticiário hoje: uma situação dramática causada pelas enchentes na Bahia. Esse post é para sugerir maneiras de nos prepararmos para um cenário em que as chuvas serão cada vez mais concentradas e períodos de seca cada vez mais longos. Tanto nas cidades quanto no campo, inundações matam pessoas, destróem casas e causam grandes prejuízos. E as secas arrasam colheitas, diminuem a produção de energia, geram desabastecimento, inflação e pobreza. Há muito o que fazer para nos prevenir. Vamos às sugestões:

1 – Produzir o efeito-esponja no território
Terra compactada não absorve água. As gotas caem e imediatamente escorregam, seguindo a força da gravidade e arrastando consigo a superfície do solo num processo chamado lixiviação (que destrói ainda mais a fertilidade). A enxurrada abre o chão e forma buracos chamados voçorocas. Um volume gigantesco de água e lama chega na calha do rio de uma vez só, com muita força. Daí para frente é deslizamento, enchente, tragédia. Mas imagine se a gota de água cair num colchão bem grosso de folhas e gravetos secos. Uma boa parte dela será absorvida e a porção que escorrer fará isso de forma mais lenta. Na natureza é assim que acontece. Repare que o chão das florestas é um tapete de folhas que mantém a umidade nos períodos de seca e absorve muita água durante as tempestades. Onde vemos terra nua é que está o perigo.

2 – Infiltrar a água no subsolo
O efeito esponja já ajuda muito. Mas há outras formas de fazer a água chegar no subsolo. Vou citar três delas:
* Raízes das plantas – Se você já cuidou de uma planta, sabe que, quando não chove, é preciso regar. E quando chove as plantas literalmente bebem por meio de suas raízes a água que caiu do céu e infiltrou no solo. Então, quanto mais plantas um lugar tiver, mais água será chupada, reduzindo o volume disponível para formar enchentes.
* Barraginhas – Essa é uma solução para áreas rurais e vale a pena ler o texto oficial da Embrapa, que explica como fazer e para que servem: “Barraginhas são pequenas bacias escavadas no solo com diâmetro de até 20 metros, tendo de 8 a 10 metros de raio e rampas suaves. São construídas dispersas nas propriedades com a função de captar enxurradas, controlando erosões e proporcionando a infiltração da água das chuvas no terreno. Assim, preservam o solo e promovem a recarga dos lençóis freáticos, que abastecem nascentes, córregos e rios. O objetivo das Barraginhas é captar a água das enxurradas e permitir sua rápida infiltração, entre uma chuva e outra, para reabastecer o lençol freático, preservar o solo e aumentar a sustentabilidade hídrica.”
https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/produto-servico/134/barraginhas
* Jardins de chuva – É o mesmo princípio da barraginha: um afundamento do solo para segurar a água. Só que revestido de vegetação adaptada a suportar algumas horas submersa sem apodrecer. Vale qualquer tamanho e é uma solução muito adequada para áreas urbanas. Se nossas cidades tivessem jardins de chuva em cada esquina, menos enchentes aconteceriam. Um programa da prefeitura de Nova York está instalando milhares por lá: https://ciclovivo.com.br/arq-urb/urbanismo/nova-york-tera-9-000-jardins-de-chuva-nas-calcadas/

3 – Captar a água que cai do céu
Estou falando de cisternas, reservatórios que guardam a água da chuva antes que ela caia no chão e fique suja. Ter uma cisterna aumenta a capacidade de obter e guardar água, o que é importante em períodos de seca. As cisternas também evitam que um tanto da água chegue na enxurrada. Em situações de enchente, talvez o mais importante seja garantir o acesso a uma água mais ou menos limpa. Observe que em áreas atingidas por desastres o abastecimento público de água e energia muitas vezes é interrompido. Água da cisterna, porém, não serve para beber ou cozinhar. Muitas orientações sobre o assunto estão no portal do Movimento Cisterna Já, do qual sou cofundadora: https://pt.wikiversity.org/wiki/Cisterna_J%C3%A1.

4 – Criar lagos artificiais
Assim como as cisternas, aumentam a capacidade de reservação de água de um local e por isso são preciosos em situações de seca. Com o manejo apropriado do terreno, a água das chuvas pode ser direcionada para o lago, evitando enxurradas. Mas aí é preciso planejar a construção do lago prevendo diferentes níveis de acordo com a situação climática.

5 – Reduzir a velocidade da enxurrada
Além de tudo que já foi mencionado acima, curvas de nível ajudam a segurar e tornar mais lenta a movimentação da água. Essas curvas devem ser escavadas adequadamente para não provocar erosões e se combinam muito bem com a agricultura. Em terrenos inclinados, a ideia é fazer valas seguidas de montinhos, seguidos de valas e assim sucessivamente, terraceando a plantação.

6Pensar como uma gota de água
Essa dica aprendi com meu amigo e mestre Guilherme Castagna, engenheiro e permacultor que é fera no manejo de água. Olhe para sua casa, sua rua, seu sítio, sua cidade e seu mundo como se você fosse uma gota de água. Imagine-se caindo. Para onde você vai escorrer? Essa é a pergunta inicial de qualquer projeto de intervenção para evitar enchentes e fazer o melhor uso possível da água. O site da Fluxus Design Ecológico, criado pelo Gui, tem muito conteúdo para quem quer mergulhar no assunto: http://fluxus.eco.br/.

7Analisar risco das construções existentes
Ninguém gosta de pensar em desastre, mas prevenir é muito melhor do que ser surpreendido por uma tragédia. Só a cidade de São Paulo tem mais de 175 mil moradias em local de risco. E as coisas vão piorar, pois no final de 2021 o Congresso Nacional retirou a proteção das margens de rios urbanos, abrindo caminho para a especulação imobiliária. As cidades brasileiras precisam de boas políticas sociais de moradia e não de facilitar a ocupação de áreas de risco. Esse cenário climático de extremos é bastante traiçoeiro. Um local pode parecer seguro até que uma tempestade descomunal surja de repente provocando catástrofe. Os condomínios também devem estar atentos a isso. Junto com Raquel Marques e Duda Alcântara, criei na Assembleia Legislativa de São Paulo um Projeto de Lei (PL 580/2021) relacionado a Segurança Climática, cujo enunciado é o seguinte: “Institui avaliação de risco para o desenvolvimento do plano de mitigação e adaptação de edificações a situações climáticas extremas, tais como temperaturas excessivas, enchentes e interrupção no abastecimento de água e energia elétrica.” (https://www.al.sp.gov.br/propositura/?id=1000385074)

8 – Escolher candidatos que priorizem a mitigação e adaptação às mudanças climáticas – A emergência climática já sacrifica sobretudo os mais pobres. Governos, organizações e pessoas fingem não perceber isso. No Brasil, o final de 2021 tem o gosto amargo da enchente na Bahia, que aniquilou vidas e deixou dezenas de milhares de pessoas sem casa. No Quênia, a seca assombrosa faz até com que, movidas pelo desespero, muitas famílias vendam suas filhas para casamentos infantis. Esses acontecimentos dramáticos ligados a secas, enchentes, ondas de frio, de calor e avanço do mar se tornarão cada vez mais frequentes. Precisamos nos preparar o melhor possível para reduzir sofrimento e prejuízos.

 

1 comentário em “8 propostas para lidar com dilúvios e secas”

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