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Como entrei no mundo orgânico

Meu pai, já falecido, era filho de colonos, imigrantes que vieram da Itália para o Brasil cultivar terras alheias até juntar um dinheirinho e poder comprar o próprio sítio. Trabalhou na roça até os 20 anos, quando se mudou para São Paulo. Meus bisavós maternos eram produtores de café que precisaram incendiar toda a colheita em 1930 porque a bolsa de Nova York tinha quebrado, o mundo entrava em recessão e não havia mais compradores.

Eu nasci e cresci no asfalto, sem nenhum interesse pela vida rural. Mas as preocupações ecológicas me fizeram querer saber de onde vêm os alimentos lá de casa. Em 1999 estava em um grande supermercado fazendo compras quando, pela primeira vez, encontrei vegetais com a palavra “orgânico” no rótulo. Fui correndo para casa e consegui achar, em letras minúsculas, o telefone do produtor. Liguei para lá e atendeu o Joop (pronuncia-se Iôp), um senhor holandês, um dos agricultores orgânicos pioneiros no Brasil, que não entendeu nada da minha empolgação e achou que eu era maluca. Na ocasião, o Sítio A Boa Terra estava começando um sistema de assinatura semanal de cestas orgânicas. Virei uma das primeiras assinantes e escrevi a respeito na revista onde trabalhava. A reportagem teve alguma repercussão e, por isso, alguns meses depois, eu e meu ex-marido (nossos filhos ainda não tinham nascido) recebemos um convite para visitá-los. Ficamos amigos do Joop e da Tini, mulher dele. Por todos esses anos, mantemos contato e aprendi muito com um ótimo informativo que chegava junto com os produtos.

Sim, os orgânicos são mais caros. Não, esses empreendedores não estão “explorando” ninguém. Pelo contrário, pagam mais aos agricultores, vivem tentando fazer ofertas e baixar preços. Infelizmente, é provável que por um bom tempo ainda a comida sem veneno custe mais. As razões são inúmeras e vou mencionar só duas: 1) o governo apoia o plantio com agrotóxicos por meio de isenção fiscal e facilidades na obtenção de crédito agrícola; 2) os produtores orgânicos arcam com custos extras de certificação, têm dificuldade de colocar os produtos no mercado, precisam cumprir muitas normas de proteção ambiental e obedecer rigorosamente as leis trabalhistas (o que muitas vezes não ocorre na agricultura convencional). Hoje em dia, encaro as despesas com alimentos orgânicos como investimento na saúde da minha família, na saúde do trabalhador rural, na saúde dos ecossistemas e em justiça social.

Joop e Tini (que aparecem na foto), os incríveis agricultores pré-pós-modernos com quem tenho o privilégio de encontrar de vez em quando, me inspiraram a planejar a horta de casa.

A vida de microfazendeira me aproxima das minhas raízes. Em situações muito urbanas de trabalho, às vezes olho em volta e penso: há três gerações, éramos todos camponeses.

1 comentário em “Como entrei no mundo orgânico”

  1. Nossa… encontrar o teu site foi uma descoberta!!… é como encontrar um livro perdido, daqueles que nos prendem, que devoramos e ao mesmo tempo não queremos que acabe, e que surpreendentemente esteve sempre aí, na nossa frente… me espanto de só ter descoberto o site agora… espero que esteja tudo bem

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